A síndrome do pânico é um dos transtornos de ansiedade mais intensos e incapacitantes.

Caracteriza-se por crises súbitas de medo extremo, acompanhadas de sintomas físicos intensos como palpitações, falta de ar, tontura, suor excessivo e sensação de morte iminente. Embora não haja um perigo real presente, o sofrimento é tão forte que muitas vezes leva o indivíduo a procurar ajuda médica emergencial.

O surgimento da síndrome do pânico

De acordo com o psicoterapeuta Marcelo Pinheiro​, a síndrome do pânico se popularizou no final dos anos 1980, ganhando notoriedade antes mesmo de ser amplamente reconhecida nos meios acadêmicos. Muitos pacientes chegavam aos consultórios ou hospitais com sintomas físicos severos e, frequentemente, ouviam que “não tinham nada”, o que aumentava a angústia e o isolamento.

A crescente ocorrência desses quadros foi relacionada, por ele, não a uma invenção da indústria farmacêutica, mas sim às características do nosso tempo: altos níveis de estresse, insegurança e excesso de informação. Vivemos em uma sociedade acelerada, onde o medo e a imprevisibilidade são parte do cotidiano — especialmente em grandes centros urbanos.

A mecânica da crise

Segundo a visão clínica da Gestalt-terapia, o ataque de pânico funciona como uma reação em cadeia entre sensações físicas, pensamentos e emoções. A primeira crise costuma vir de forma inesperada. Após isso, o medo de ter uma nova crise se instala. Surge então o “medo de ter medo”, um ciclo vicioso que incentiva a ansiedade crescer e favorece novos episódios.

Esse processo é autoalimentado:

  1. O indivíduo sente uma alteração fisiológica qualquer (como batimento cardíaco acelerado);
  2. Interpreta isso como o início de uma crise;
  3. Entra em pânico com a possibilidade;
  4. O medo amplifica os sintomas físicos;
  5. A crise se concretiza.

Dessa forma, o corpo e a mente adentram em um colapso de retroalimentação negativa.

Sintomas mais comuns

  • Palpitações, taquicardia
  • Sudorese intensa
  • Tremores
  • Sensação de asfixia
  • Náusea ou desconforto abdominal
  • Tontura ou desmaio
  • Medo de enlouquecer ou morrer
  • Sensação de irrealidade

Fatores predisponentes e gatilhos

A síndrome do pânico pode se manifestar em pessoas com traços de personalidade específicos. Marcelo aponta dois perfis extremos:

  • O “super-homem”: alguém que quer dar conta de tudo, não reconhece seus próprios limites, se sobrecarrega e reprime suas emoções;
  • O dependente emocional: delega decisões aos outros, tem medo da autonomia e evita assumir responsabilidades.

Ambos os estilos, por razões diferentes, se distanciam de suas necessidades reais e acabam se fragilizando emocionalmente.

Também existe uma alta incidência do transtorno em pessoas com prolapso da válvula mitral, uma condição cardíaca que, apesar de não ser grave, pode gerar sensações físicas semelhantes às de um ataque de pânico, funcionando como disparador.

Tratamento e psicoterapia

A psicoterapia é a base do tratamento. Na abordagem da Gestalt-terapia, o foco está na ampliação da consciência corporal e emocional. O terapeuta busca ajudar o paciente a observar suas sensações internas sem julgamento, aprendendo a interromper o ciclo de pânico.

Exercícios físicos

Marcelo recomenda a prática de atividade física regular, especialmente aquelas que elevam o batimento cardíaco (como corrida, dança ou natação). Isso ajuda a:

  • Produzir substâncias antidepressivas naturais;
  • Reaproximar o paciente das sensações físicas em um contexto positivo;
  • Aumentar a autoestima e sensação de controle.

Gráficos de monitoramento

Outra ferramenta utilizada é o registro da frequência das crises, por meio de gráficos. Isso ajuda o paciente a perceber a evolução do tratamento, entender os gatilhos e evitar a falsa sensação de regressão.

A crise como aprendizado

A crise de pânico pode ser uma grande oportunidade de transformação. Ao obrigar o indivíduo a parar e se escutar, ela o convida a reavaliar sua postura diante da vida. Essa reavaliação pode prevenir doenças mais graves e promover um estilo de vida mais saudável e equilibrado.

A medicação é necessária?

Nem sempre. Marcelo ressalta que muitos pacientes conseguem superar o quadro apenas com psicoterapia e mudanças comportamentais. A medicação pode ser útil como suporte temporário, mas não atua nas causas profundas do transtorno.

A decisão de incluir medicamentos deve ser avaliada caso a caso, e de preferência, quando o paciente já iniciou um processo de autoconhecimento e enfrentamento. A confiança excessiva em soluções externas pode reforçar a dependência e dificultar a evolução terapêutica.

Considerações finais

A síndrome do pânico é uma resposta extrema a um ambiente interno e externo desorganizado. Não é frescura, exagero ou fraqueza — é um grito do corpo pedindo socorro. A boa notícia é que existe tratamento eficaz, e a cura é possível quando o paciente se compromete com sua própria mudança.

O processo pode ser um tanto desafiador, mas com certeza é também libertador. Reencontrar o equilíbrio emocional é mais do que eliminar as crises — é reencontrar a si mesmo e reconstruir uma relação mais amorosa com o próprio corpo, limites e desejos.


❓FAQs sobre Síndrome do Pânico

1. Síndrome do pânico tem cura?
Sim. Com psicoterapia, mudanças de estilo de vida e, se necessário, medicação, a maioria dos pacientes supera o transtorno.

2. Quanto tempo dura o tratamento?
Depende de cada caso. Muitas pessoas melhoram significativamente entre 3 e 12 meses após o início do acompanhamento.

3. Quem tem síndrome do pânico pode trabalhar normalmente?
Sim. Após o controle das crises, é possível retomar uma vida produtiva com segurança.

4. A medicação é obrigatória?
Não. Em muitos casos, apenas a psicoterapia e o autocuidado são suficientes.

5. O que fazer durante uma crise?
Buscar um lugar seguro, respirar profundamente, tentar não lutar contra as sensações e lembrar que a crise vai passar. Técnicas de grounding e relaxamento também são úteis.

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